Não há lugar como o nosso lar*

*There’s no place like home (O Feiticeiro de Oz)

 

2020 terminou. Foi um ano do catano.

O corona vírus fechou-nos em casa em Março e ainda estamos, a medo, a abrir as portadas de nossas casas.

Foi um ano de teletrabalho e aulas online. De cozinhar e engordar. De aprender a não sair de casa.

Foi um ano de voltar à tele-escola e de reuniões de trabalho com as caretas dos filhos como pano de fundo.

Foi o ano em que perdemos muitas vidas e que perdemos uma vida que nos era muito especial.

Foi um ano que nos deixou a trepar paredes, a apreciar a varanda (e tentar não nos atirar dela abaixo), a contar cada metro quadrado e a agradecer por sermos os sortudos que têm um pouco de jardim nas traseiras da casa.

Foi um ano duro, mas também de conquistas e superações.

O outfit of the year foi o fato-de-treino. E isso devia ser bom. Mas a verdade é que andar de fato-de-treino para mim significa não ter roupa que me sirva.

Foi o ano em que perdi mais cabelo do que em 3 pós-partos juntos. Ter passado meses seguidos em casa, a trabalhar, com 3 filhos é de arrancar cabelos. Mas nem foi preciso arrancá-los! A pressão foi tal que eles caíram sozinhos.

Ao voltar ao trabalho no primeiro dia útil de 2021 sou obrigada a deixar o fato-de-treino de lado e a resgatar aquela roupa (a única) que ainda me serve. As minhas mamas ganharam vida própria e teimam em sair de um soutien que de redutor só tem a redução da minha conta bancária.

Volto a uma velha história da minha vida. No segundo semestre do ano decidi fazer algo para emagrecer. Tenho tido uma ajuda preciosa da minha  health coach (que isto de médicos ou nutricionistas já deu o que tinha a dar) e a verdade é que tenho aprendido imenso.

Com ela aprendi que é preciso tempo para me conhecer. Tempo para estar comigo mesma. Que não é pecado ter tempo para mim.

Com ela aprendi que é preciso cortar a ingestão de coisas tóxicas. Sejam essas coisas comestíveis ou não!

No meio das curvas e contra-curvas da estrada 2020 perdi peso. Mas o  maior peso que perdi foi o que trazia nos ombros.  Tenho muito ainda para aprender.

Outra coisa valiosa que aprendi com a minha health coach – e não se riam porque não é piada – é a importância do cocó. Quem não o faz, engorda. Quem tem o intestino preso tem amarras à volta de si próprio. E isso é (como diria o “Tone” do filme “Balas e Bolinhos”) uma “pilha de bost@ de merd@”.  Por isso, ouçam o meu conselho: obrem! Obrem no sentido literal, mas também no sentido figurado! É importante expelir. Deitar cá para fora aquele “SIM” que deixo sempre para depois ou aquele “NÃO” que já vem tarde.

Aprendi ainda que esperar é importante. Que é preciso respeitar a duração de cada ciclo. Que para voltar a ter cabelo saudável ou emagrecer é preciso tempo. É preciso paciência. (Ok, já percebi. Lição aprendida. Mas não posso acordar mais magra tipo...amanhã?!)

Também aprendi a ser menos dura comigo mesma. Tenho uma tendência sórdida para me julgar. Acho muitas vezes que estou a falhar enquanto mãe. A minha mãe teve 6 filhos. O dobro dos filhos que eu tenho. É ela que mo costuma dizer. Mas engraçado que não tinha pensado – até uma amiga me ter chamado à atenção para isso – que ela teve o triplo da ajuda. Tinha 3 empregadas: uma a tempo inteiro, outra para tratar da roupa e uma última para os trabalhos mais duros (lavar escadas, tratar do quintal). Não quero que este argumento sirva de desculpa. Sei que estou a falhar nalgumas coisas. Mas também sei que seria muito mais fácil se tivesse 3 empregadas. Ou 1, vá.

Uma coisa que me põe doida é a casa. A minha casa está desarrumada ( o que se pode facilmente explicar pelo facto de ter 3 crianças), o pó multiplica-se cada vez que inspiro e o número de peças de roupa para lavar parece o registo de infectados por covid no pós-festas. Estar em casa faz com que tudo isto seja mais visível. E estar em casa devia permitir ter tempo para organizar! Mas não...entre teletrabalho, fazer refeições, lanches, deveres e afins....lá se vai o tempo!

Com a minha health coach aprendi que talvez seja melhor começar por arrumar “os macaquinhos que tenho no sótão” e só depois arrumar as restantes divisões da minha “casa”.

Parece que na viragem do ano todos os nossos problemas, desejos, aspirações se juntam para formar um grande tornado como o do Feiticeiro de Oz. Sinto-me como a Dorothy dessa história: apanhada pelo furacão, a ver passar todas estas questões num rodopio estonteante. E tal como a Dorothy, parece-me que esta jornada quer ensinar-me outra lição:  a importância da nossa casa. Do sítio onde mora o nosso corpo e a “casa” onde mora a nossa alma. Porque não há lugar como o nosso lar.

Pena ainda não ter encontrado a estrada dos tijolos amarelos. Nem os sapatos mágicos vermelhos.

Mas também me parece que a viagem ainda agora começou. Destino: 2021.

 

PS - Um beijinho muito grande para a Susete Estrela, a minha Health Coach 


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